quarta-feira, 9 de julho de 2008

O envelhecer

O envelhecer
Ricardo Gondim.


Envelhecer não é tão fácil como me diziam. Não, não me incomodo com as rugas que sulcam o rosto, com a ruína implacável da cabeleira, com a luta inglória contra a gordura da cintura, com a flacidez dos músculos; sequer esperneio contra a aproximação inexorável da senhora da foice.
Envelhecer é difícil devido às enormes perdas. O passado vai se tornando tão antigo que requer esforço extra para ser lembrado. Eventos tão caros não voltam com facilidade; outros se perdem para sempre. Nomes, rostos, datas, são arquivados no armazém para as traças fazerem festa.
Envelhecer é difícil devido às despedidas. A maioria das pessoas importantes da infância morre. Avós, tios, pais, sogros, mentores espirituais, simplesmente somem. Alguns nem esperaram para se despedir, outros agonizam tanto que é preciso pedir a Deus que os leve.
Envelhecer é difícil devido às decepções. Quando se acha impossível se surpreender com novos desapontamentos, alguém se aproxima e brinca com a nossa ingenuidade. As desilusões se acumulam e de repente basta uma palha para a coragem desabar; um pingo pode derramar toda a esperança.
Envelhecer é difícil devido à falência dos ideais. Duvida-se das megalomanias, suspeita-se das onipotências, ri-se das bravatas messiânicas. Os grandes projetos já não nos encantam e as empreitadas faraônicas não apetecem.
Envelhecer é difícil devido à falta de paciência para lidar com questiúnculas. A exigüidade dos anos não permite que se perca tempo com debates sobre vírgulas de um catecismo. A gente se inquieta com melindres sem razão e com narcisismos bobos.
Envelhecer, confesso: não é fácil.


Soli Deo Gloria.

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